sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Estátua de ditador

Abaixo vamos reproduzir um texto do jornalista Juremi Machado da Silva, do Correio do Povo:

                                              - Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER

O prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, quer construir uma estátua para o intelectual da ditadura militar brasileira de 1964, Golbery do Couto e Silva, o mentor do golpe. Quem tiver alguma dúvida sobre o papel desse espírito tenebroso, nascido em Rio Grande, que leia "1964: A Conquista do Estado", de René Armand Dreifuss. Os vereadores de Rio Grande, exceto o representante do PC do B, aprovaram essa ideia digna de um luminar palomense. Os torturadores brasileiros ainda não foram para a cadeia. Os arquivos secretos da ditadura continuam fechados. Rio Grande quer homenagear o Rasputin nacional (dá-lhe, Google!). Por que não uma estátua para os ministros militares que tentaram dar o golpe em 1961?

Fábio Branco podia arranjar algum motivo melhor para aparecer. Essa ideia é vergonhosa. Tão vergonhosa quanto continuar a ter a via de acesso à capital gaúcha ostentando o nome de um militar que enfiou o Brasil num buraco negro cujos segredos permanecem guardados. O prefeito Fábio Branco disse que é "uma honra para o município fazer esta homenagem a um rio-grandino que muitos serviços prestou à nossa terra". Uau! Deve ser por isso que os políticos andam tão desacreditados. Eles são capazes do pior e do pior. É autoaumento de mais de 70%, viagens em aviões de empresas amigas, toma-lá-dá-cá generalizado e promessas jamais cumpridas. Antes, ao menos, eles tentavam acertar mais nas suas homenagens.

Depois da queda das ditaduras comunistas, todas aquelas ruas e cidades batizadas de Karl Marx, Leningrado, Engels, Stalingrado e por aí afora mudaram de nome. É hora, como pretendem os vereadores do PSol, Pedro Ruas e Fernanda Melchionna, de trocar o nome da principal avenida de entrada em Porto Alegre, que continua honrando um ditador, Castelo Branco. Por que Porto Alegre se maltrata assim? Cheguei a propor avenida Elis Regina. Os vereadores apresentarão projeto defendendo um nome ainda melhor: Avenida da Legalidade. Perfeito. O momento é de tirar nomes de ditadores e de seus conselheiros áulicos, não de erguer estátuas para inimigos da democracia. Os defensores de Golbery dizem que ele bancou a abertura lenta e gradual. Antes, ele foi o cérebro do fechamento.

Assim anda o mundo. Quer dizer, Porto Alegre anda pela Castelo Branco. Vai ver que é para pisar em cima dele todo dia. Avenida da Legalidade tem muito mais charme e legitimidade. Chega de ditador em placa de rua. Quanto ao caso de Rio Grande, intelectuais estão passando um abaixo-assinado para tentar impedir esse gesto de elogio à ditadura ou, na melhor das hipóteses, de "síndrome de Estocolmo". Salvo se for puro reacionarismo mesmo. O mais incrível é que Fábio Branco pertence ao PMDB, que se orgulha de ter combatido a ditadura do jeito que deu, o jeito PMDB de dar. Resta uma hipótese radical: Branco quer expor Golbery às pombas da praça Tamandaré para que elas o distingam diariamente com aquele material que costumam jogar sobre a cabeça de uns e outros. Uau!

Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/impressao.Aspx?Noticia=333431

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